sábado, 10 de março de 2012

Bakuman - Sobre hipocrisia e valores distorcidos


  Quem acompanha Bakuman sabe que desde o primeiro capítulo o objetivo do protagonista é conseguir se casar com a "donzela em perigo" Miho. No começo tudo parecia muito bonito e fofinho, um casal que só se corresponderia através de sms (o equivalente moderno das cartas de amor) e raras ligações telefônicas, eles só se reencontrariam pessoalmente quando realizassem seus sonhos: Ele se tornaria um mangaká (desenhista de mangá) famoso e ela se tornaria uma seiyuu (dubladora), os dois se casariam quando ela dublasse a protagonista  na versão anime do mangá. Até aí tudo bem, mas o modo como as coisas foram levadas...

  Eu entendo, é um mangá de uma revista shounen, ou seja, tem que ter o aval dos pais e cativar as crianças que leem a revista (mesmo crianças estando longe de ser o público-alvo da revista), o problema é que o mangá idealizou esse amor casto como se fosse a forma verdadeira de amor e forma "certa". Não é segredo para quem acompanha as obras da dupla que o machismo sempre esteve presente e mulheres com iniciativa e que competiam com os homens sempre foram menosprezadas e tratadas como burras (afinal, o principal objetivo da vida de uma garota é parecer fofinha e arrumar um marido para poder cuidar dele, da casa e dos filhos). Um belo exemplo é a colega de classe deles, Iwase Aiko, o Mashiro disse com todas as letras que ela era burra por competir diretamente com os garotos e tirar notas boas, seria melhor para ela se ela agisse "kawaii" como a Miho e disfarçasse a capacidade dela de tirar notas altas, afinal, não é bonito ver uma garota tirando notas altas e competindo com os garotos. O melhor amigo do protagonista e roteirista da dupla era o alvo amoroso da Iwase Aiko, mas ele optou por ficar com a Kaya Miyoshi, nenhum problema quanto a isso, a Kaya era uma ótima personagem, desinibida, ativa, moleca, no começo da série ela ajudava os rapazes a produzir os mangás passando borracha e nanquim nos originais e até teve a iniciativa de escrever light novels (que fizeram relativo sucesso), mas logo que ela se casou com o Takagi e o assunto das light novels simplesmente foi esquecido e ela virou só mais uma puxa-saco da dupla que serve de empregada doméstica no estúdio, afinal uma mulher casada respeitável não pode trabalhar, não é? Ainda mais em algo que envolva  capacidade e criatividade como escrever.


  E com isso o romance em Bakuman sempre ficou em segundo plano, até alguns capítulos atrás quando finalmente decidiram tirar o cabaço do casal protagonista botando eles pra tentar casar (eu acho). Finalmente a dupla Ashirogi Muto emplacou um mangá de muito sucesso e o sonho deles de ganhar um anime vai virar realidade, Azuki Miho seria a dubladora da protagonista (o papel foi escrito para ela), mas eles querem que ela prove a própria capacidade de ganhar o papel através de audições (o que parece um grande progresso em se tratando de Bakuman, mas lembrem-se ela pode lutar pelo papel porque está lutando pelo seu homem, pelo seu direito de casar!!).
  Mas acontece um imprevisto, um ex-colega de escola que é um sujeitinho repulsivo e um otaku maníaco e perseguidor de seiyuus que vaza anonimamente na internet sobre os interesses amorosos da Miho ao mesmo tempo em que uma seiyuu novata e tolinha (ela é mulher, é lógico que ela é tolinha) comenta que uma seiyuu famosa está em um relacionamento com um mangaká da Jump e que ela pelo amor deles.
  Daí então o que poderia ser um belo arco abordando o problema social que são os doentes mentais fanáticos que se chamam de fãs das seiyuus e a perseguição absurda que eles fazem às moças impedindo as coitadas de namorarem, casarem e terem uma vida normal, como se dublar personagens de anime fosse uma espécie de profissão sagrada que apenas sacerdotisas vestais podem exercer. Há quem diga que os maníacos perseguem as coitadas durante o natal (que está mais para uma espécie de dia dos namorados no Japão) para checar se elas estão solteiras e "puras" ou se estão namorando, se o segundo caso for verdade as coitadas sofrem (mais) perseguições, recebem cartas e telefonemas de ódio e essa minoria barulhenta faz de tudo para a popularidade das coitadas caírem.
  Estava tudo indo muito bem no mangá, tudo muito empolgante etc. O Fukuda teve uma participação incrível defendendo o amor dos dois, dando uma bronca nos stalkers loucos que se intitulam "fãs" em um programa de rádio, até a própria Miho entrar em ação, o que começou muito bem terminou muito mal.
  Ao invés da Miho defender seu direito de ser uma trabalhadora com direito a uma vida pessoal (o que inclui  entre outras coisas o direito de namorar, sair, transar com quem ela quiser) ela pede desculpa por aborrecer seus fãs, como se frustrar as ilusões que esses doentes (uma mistura de amor platônico com ilusão de posse do corpo alheio, valores retrógrados regado a muito machismo etc.) têm fosse algo de errado. E assim a possível crítica social se transforma em apoio a esses doentes, afinal, oi mangá está mostrando como eles estão certos, ela tem que pedir desculpas por ter uma vida e amar uma pessoa desde criança, ela não possui esse direito inalienável, esse direito é dos donos dela, como eles compram os cacarecos que a empresa para a qual ela trabalha lança eles têm todo o direito sobre o corpo e sobre as escolhas que ela toma em sua vida pessoal.

  E para piorar tudo os dois conseguem aprovação do grande público quando revelam que ambos são virgens, nunca nem se beijaram e para piorar só se viram ao vivo duas vezes desde o colegial (cerca de seis anos durante a série). Vocês acreditariam em um amor cujas pessoas não se veem e não têm contato? EU NÃO!
  O grande problema é o moralismo, esse tipo de "amor" já seria considerado ridículo desde a revolução sexual, mas infelizmente é isso que eles estão tentando passar para as crianças e adolescentes: sexo é errado, beijar é errado, abraçar é errado, andar de mãos dadas é errado, estar junto é errado, o relacionamento só é correto quando os dois estão longe um do outro e se mantém castos, isso é ser "puro", todo o resto é "sujo". Afinal, um amor "puro" é capaz de tudo, de comover parte desses loucos e mudar a opinião popular. Falta pouco para a conclusão dessa saga, mas não é difícil adivinhar qual será o resultado: o amor "puro" deles vai ser capaz de superar as dificuldades e os dois vão se casar de branco, afinal o amor puro deles como é "superior" vai ser capaz de vencer todos os obstáculos.

  O que fica é que mais uma geração vai crescer bombardeada com esses valores distorcidos acreditando que as garotas têm que se manter "puras" (palavra que o mangá adora ressaltar), sem experiência, sem poder optar pelo que preferem, que uma opção feita no colegial deve durar para a vida toda, que um pedaço minúsculo de carne chamado hímen é o que te faz melhor do que as outras e é isso o que vai te fazer ter uma vida bem sucedida e um final feliz, se você mantiver seu hímen você vai conseguir superar todas as dificuldades, mesmo frustrando as expectativas de desconhecidos que têm fantasias irreais a seu respeito. Amor de verdade não é construído aos poucos, não é construído conhecendo o outro, o corpo de quem se ama ou o próprio corpo, sexo é apenas uma parte desagradável que só os homens têm direito de aproveitar e assumir que gostam. É esse tipo de mangá com esse tipo de discurso nas entrelinhas que faz sucesso e é propagandeado hoje em dia, que faz propaganda de um ideal falido, errado e que qualifica as pessoas por um pedaço de carne glorificando a ignorância em diversos sentidos.

  É muito triste acreditar que mais uma geração vai crescer sendo levada a acreditar que um pedaço de carne determina a pureza de alguém e que esse tipo de "pureza" é algo positivo ao invés de pura ignorância.

terça-feira, 6 de março de 2012

Mulheres Ricas - Uma paixão


  Mulheres Ricas foi a  grande surpresa do verão, é o único programa que eu assisto na TV sem perder um único episódio desde quando Project Runway passava no finado People & Arts (Foda-se LIV!!). Eu tinha escutado falar alguma coisa sobre o programa antes e não levei a sério, adorei o barraco na internet da Val e o ex-marido/amante/sei-lá-o-quê, mas não prestei atenção e acabei assistindo ao primeiro episódio por puro acidente, foi amor à primeira vista.

  Comecei o programa como fã da Narcisa, mas rapidinho eu me tornei #TeamValdirene4Ever, Hello?! Sempre achei muito engraçadas as entrevistas da Narcisa no Jô, os vídeos loucos do Youtube e as histórias do passado mítico e descontrolado, pena que só sobrou o descontrole. Outra coisa que eu amava era o twitter fake que acabou virando o Twitter oficial (e que foi um dos motivos de eu usar o Twitter de verdade, aquilo era muito engraçado e só acessava o Twitter para ler essas bobagens).

Brunete Fracarolli = A primeira impressão que eu tive era de que ela era uma velha pirracenta e com problemas mentais que ficava choramingando por causa de Barbie (1º episódio S2), mas depois eu fui vendo como ela é uma pessoa fofa e agradável. Mas o problema é que ela é fofa demais, me lembra certas "otomes" (e uns rapazes afeminados também) que tentam ser kawaiis demais. A palavra que define a Brunete é kawaii, ela quer ser fofa demais e isso é chato, tem que ter um lado forte, ser legal o tempo todo é muito falso, não dá pra acreditar. Mas eu gosto dela e ponto final.
  A Brunete só deveria tentar mudar o gosto por homens, ela não é mais bonita, pode ter sido quando jovem, mas não é mais. Pelo que a edição do programa deu a entender ela só quer garotão e infelizmente é quase impossível um rapaz do jeito que ela quer se interessar por uma pessoa de idade.Ela tem idade pra ser avó, ela não deveria ficar dizendo que está  procurando um "grande amor" se só quer saber de rapazes de 20~30 anos (metade da idade dela ou mais, acredito), deveria assumir que só quer diversão. A vida é dela, ela é uma pessoa bem sucedida e dona do próprio nariz, ela mais do que ninguém deveria saber que um rapaz do jeito que ela procura não vai se interessar por ela por causa da "beleza", "simpatia" ou qualquer outra ilusão que ela possa ter. É triste ver ela chamando homens de 40 a 50 anos de "trastes" e "estrupícios", imagino que os rapazes de 20~30 anos que ela aparentemente curte (é a impressão que o programa passou) pensem dela da mesma forma. Karma is a bitch!

  Débora Rodrigues = Já conhecia a trajetória da Débora, lembro de quando saiu a Playboy dela, de como foi comentada e até de uma carreira de modelo que ela teve, já conhecia do programa Troca de Famílias que passou na Record e eu desde então tenho simpatia por ela. Não sei se foi por causa da edição do programa, mas o que ficou marcado é o jeitão despojado e masculinizado (tem outra palavra?) dela. Do grupo é de longe a pessoa mais equilibrada, nada de esbanjar, mas também não é divertida, mas é bom ver alguém que destoa do grupo, ela atua como uma dose de realidade naquele mundinho cor-de-rosa regado a champagne.       O que mais me incomoda nela é o piercing no nariz (dá pra perceber que é o "toque feminino" dela), mas piercing não fica bem em uma senhora, piercing no nariz é o tipo de coisa que só fica bem em adolescente revoltada que só se veste preto de até os 20 anos, depois disso fica feio demais. Preciso dizer que a Débora é lindíssima, ela deveria se cuidar mais.

  Lydia Leão Sayeg = Em um primeiro momento eu tomei um susto, ela parecia a louca psicopata que só gosta de armas e bater nas pessoas, mas felizmente os outros episódios mostraram outras facetas dela. Mas eu confesso que senti medo vendo os olhos dela brilhando enquanto ela perguntava com a voz elevada algumas oitavas acima do normal se tinha "matado" o alvo da aula de tiro.
A Lydia parece ser uma ótima mãe, uma pessoa equilibrada, a parte em que aparece ela ajudando o leilão da Casa Hope foi lindo, o Brasil precisa de mais pessoas assim. A filha irresponsável que tomou vinte e duas multas de trânsito... Ah, se ela pagasse as próprias contas (inclusive multas), pelo menos ela parece dar valor à mãe que tem, mas ela precisa ser mais responsável, não se pode largar carro no meio da rua, ela precisa lembrar que existem outras pessoas.

Narcisa = Nos primeiros episódios ela parecia ser "a engraçada", "a pessoa de bom astral", carpe diem parecia ser a frase que a definia, mas lá pelo terceiro episódio ela começou a cansar. Chaaaaaaata, artificial, não gostei. A impressão que ela passou é que sofre de DDA em um grau muito alto, nunca consegue focar em nada, em um momento ela fala do padre e no outro tá cantando Zeca Pagodinho. E aquela história dela ter batido no namorado e deixado ele com hematomas? Maria da Penha nela!! Comecei a dar razão à Val naquela hora que ela manda o motorista desligar o helicóptero e dar um "badalo", doida de pedra define. Sdds hospício.
  Sempre a mesma falsa alegria de viver, sempre um sorriso forçado no rosto, deve ser muito chato ter que fingir ser feliz 100% do tempo, assim como ninguém é fofa 100% do tempo ninguém é feliz 100% do tempo. Eike chata, Eike forçada, Eike sorriso falso. Ai... Cadê meus remédios?

  Valdirene Marchiori = A minha preferida de longe. A Val é a Karen Walker brasileira (não sabe quem ela é? Joga no Google!!) e não vive sem seu fiel Jack McFairland (Dudinha), me espantei de ver como a Val é humana. A Val é bonita (artificial, as vezes parece um travesti), inteligente, tem boas tiradas e o humor dela varia, não é aquela coisa falsa . Dá pra ver que boa parte das intriguinhas foram armadas, parece que teve uma espécie de roteiro a seguir, mas ela brilhou e foi o centro do programa, Val foi 70% do Mulheres Ricas, sem ela o programa não teria graça, não funcionaria.
  A meu ver o grande problema da Val é ser superficial demais, vencer na vida não é só poder dar uma festa de arromba e comprar jóias de U$500.000,00. Deu pra ver no encerramento do programa que a mãe dela percebeu isso e que ela não vê isso. Natural que uma garota que foi criada na roça sem luz ou água encanada ame essa vida luxuosa e glamourosa, mas a vida não é só isso e se tem mais coisa além disso na vida dela infelizmente o programa não mostrou.
  A Val é a cara de São Paulo, em todo o seu glamour e defeitos, o fato dela ter vindo de outra cidade faz dela ainda mais a cara de São Paulo que é essa fusão de gente vinda de todos os cantos do planeta. Só acho que ela poderia ter pegado mais leve com o veneno, ter falado menos das jóias da Lydia, cutucado menos a Narcisa (mas aqui as duas se merecem e a rixa parece ter sido proposital), ter sido menos preconceituosa com as origens da Débora (ainda mais ela que tem uma origem tão humilde quanto).


  Mulheres Ricas foi uma delícia do início ao fim, é uma visão de um estilo de vida que eu provavelmente jamais terei (e nem sei se gostaria de ter), é muito exibicionismo, tem que gostar muito de se expor para participar de um programa desses. Foi engraçado, espirituoso, fútil (why not?), foi muito bom ter acompanhado esse grande pastelão, é bom ver essas bobagens pra descansar da realidade cotidiana e é esse o grande atrativo do programa, foi o grande reality show da temporada. A Globo deve estar se roendo, Mulheres Ricas deu de 1.000.000 x 0 no BBB, são dois programas que deveriam mostrar a realidade, mas são pura armação, mas Mulheres Ricas ao contrário do BBB tem carisma e brilhou do começo ao fim, nada de oscilações, todos os episódios foram ótimos. Hello?!

domingo, 29 de janeiro de 2012

BORN THIS WAY - Resenha crítica

Capa do CD Deluxe, cabelos revoltos livres, maquiagem pesada, sinônimo de liberdade


    Não vou falar sobre música nessa resenha, não tenho capacidade pra isso, mas vou falar sobre a mensagem, a simbologia presente na obra. Born this Way não é sobre um nascimento físico, é um (re)nascimento espiritual. Quem acompanha a carreira da Lady Gaga já deve ter percebido a tendência messiânica que ela vem mostrando, ela pretende salvar o mundo com a sua música, como ela disse em alguma entrevista ela não pretende ser parte da máquina, ela quer que a máquina seja parte dela.  O Born this Way é e deve ser interpretado como um chamado divino (real ou puramente fictício), é Gaga pondo em prática a missão que recebeu de deus, salvar essa nova geração dos principais problemas que a aflige: Falta de iniciativa, baixa auto-estima e bullying.

  1 - O CD começa com a faixa "Marry the Night" http://www.vagalume.com.br/lady-gaga/marry-the-night.html

  O que significa Marry the Night? É simplesmente se aceitar como você é, com todas as suas falhas, é sobre aceitar o seu "lado negro", aquele lado que é temido por algumas pessoas. O lado que Natalie Portman precisou liberar em Cisne Negro, a força primal que Heath Ledger abraçou em Batman.
  No videoclipe ela basicamente se aceita como é, deixando de lado os padrões rígidos (balé) e liberando toda a sua criatividade e energia (dança de rua, explosões de carros), ela se liberta da loucura da vida regrada e resolve simplesmente viver e é isso que a letra da música nos diz, viver a vida como alguns julgam errado, mas como o coração dela manda.

 2 - Born this Way:


Como já foi dito não é sobre um nascimento físico, é sobre um nascimento espiritual, uma nova dimensão da consciência humana de respeito mútuo apesar das diferenças. O renascimento acontece quando você deixa sua velha vida de não aceitação pra trás e passa a se amar como você é, como você se sente bem. A mensagem de Born this Way é sobre não deixar ninguém mudar você, você é que tem que mudar a sociedade para ela te aceitar do jeito que você gosta de ser.


  É uma das minhas faixas favoritas, dançante, com mensagem, tem tudo para ser o novo "Bad Romance" se for bem trabalhado. Em Government Hooker Gaga assume o que ela é: Uma pessoa que  cumpre ordens e dança conforme a música. Ou vocês acham que essas mensagens de auto-afirmação realmente vêm totalmente do fundo do coração? É óbvio que aqueles que controlam o poder (e não é de Governo político que fala a música) passam tudinho que deve ser dito a ela. O que eu mais gosto na Gaga é essa atitude Ombudsman, ela gosta de ser famosa, quer se manter famosa e não tem vergonha de admitir isso, ela vai fazer tudo o que for mandada se pagarem o preço (fama).
  Pode parecer assustador a princípio, e esse é um álbum muito dark, mais do que pode ser percebido superficialmente. Eu diria que o próprio nome da Lady Gaga diz isso, é como se ela fosse a versão feminina do bobo da corte, ela é o bobo da corte do mundo do entretenimento, ela diz todas as verdades que quer e que precisam ser ditas e quase ninguém percebe, afinal ela é a louca do pop. Ela tem muita liberdade, ninguém se choca quando ela aparece vestida de cabelos de criancinhas afegãs pois isso é o que se espera dela.


  Outra faixa que é muito mal interpretada, ela não fala do Judas que traiu Jesus nas histórias da bíblia ou de um namorado traidor. Ela fala daquele lado de nós mesmos que nos trai o tempo inteiro. Judas somos nós que optamos pelas coisas que sabemos serem erradas e que só vão nos trazer problemas no futuro. Quem não faz alguma coisa errada todos os dias, deixa coisas importantes pra depois e se preocupa com futilidades ao invés de se preocupar com as coisas que realmente importam? Judas é sobre escolher a opção errada sabendo que ela é errada, e isso é algo que nós fazemos todos os dias. Poderia dizer até que Judas é uma música em 3 camadas, na primeira você pensa que é sobre o Judas, depois você pensa que é sobre um namorado traidor e só depois você percebe que é sobre nós mesmos.


  Essa é uma faixa que eu acho que não tem nada a ver com o resto do CD, ou se tem algo a ver eu não consegui entender. Pensando o CD como uma coletânea de músicas sobre o mesmo tema "Americano" que em tese fala sobre a imigração ilegal etc. etc. não tem nada a ver com o resto das músicas. Mas mesmo assim é uma música que eu amo. Pelo que entendi até agora a música realmente é sobre imigrantes, então prefiro não comentar nada e deixar que vocês leiam e façam a crítica por conta própria.


  Talvez seja minha faixa favorita do CD, simples e genial, eu fiquei muito aborrecido por ter sido apenas um single promocional, só com a apresentação no Good Morning America a faixa conseguiu ficar em 12º lugar no Hot100 da Billboard e em 5º lugar entre as músicas mais vendidas digitalmente.
  Hair fala sobre não se encaixar nos padrões e não querer se enquadrar, é sobre ter a liberdade pra viver do seu jeito (assim como Born this Way), é uma música simples cativante e que fica ainda mais bonita quando é interpretada só com voz e piano, e de preferência ao vivo (que é onde a Gaga mais brilha e se diferencia das outras cantoras pop que precisam usar playback em todas as suas apresentações). A mensagem é a mesma de Born this Way, mas é feita de uma forma mais suave e doce, é bem infantil, eu vejo como o lamento de uma criança cujos pais não a aceitam como é. A metáfora aqui é o cabelo, mas serve para o corpo todo e a mente também.


  Essa música poderia se chamar Paparazzi ou Bad Romance parte II. Nela Lady Gaga fala sobre a Scheisse (merda), que no caso é o vício dela, a coisa sem a qual ela não pode viver e o que consome a sua vida: a FAMA. Essa música estaria melhor situada no álbum anterior e deveria ter sido a primeira a ser trabalhado como uma forma de transição para a sonoridade desse novo trabalho. Scheisse é dançante, energia pura, contagiante e decadente, assim como os viciados. Nessa música Gaga nos conta que gostaria de ser forte sem a sua droga, mas o vício (pela fama) é mais forte do que ela e que ela fará qualquer coisa por mais 5 minutos de fama.


  Mais uma música messiânica, e pelo menos eu amo isso. Eu considero uma música bem mediana, mas tem cara de música de trabalho que faria sucesso. A Bloody Mary da canção não é o drink, não é a rainha inglesa, Maria I que matou um monte de "hereges", nem totalmente Maria Madalena.
  Blood Mary é mais uma música feita pra chocar, as referências às teorias de que Maria Madalena foi amante de Jesus são bem explícitas na letra da música. Bloody Mary é uma provocação à igreja. Nela a Gaga diz que mesmo quando a igreja se for ela vai continuar amando Jesus Cristo como a amante dele, renegada por todos. O que mais uma vez prova a loucura messiânica da Lady Gaga que nós (eu pelo menos) tanto amamos.

9 - Black Jesus - Amen Fashion

  Sonoramente uma das minhas favoritas do CD, o significado não fica muito atrás. Gaga está mais provocativa do que nunca e essa música realmente é genial (diferentemente da genérica Bloody Mary). É lindo escutar a Lady Gaga cantando Jesus is the new black, o que eu traduziria como "Jesus é o novo pretinho básico/tendência". Lamento demais terem tirado o verso I wear black da versão final da música (que daria uma visão de Eu visto/sou Jesus/Messias/Salvadora).
  Nessa música espetacular em todos os sentidos Gaga vulgariza a religião, a transforma em consumismo e se afirma como um novo messias da moda fashion-religiosa, é o surgimento da religião descartável. Eu a acho simplesmente genial!!


  Bad Kids é uma delícia, a faixa mais Rock n' Roll do CD, é pura revolta, é novamente sobre o tema central do CD: Se aceitar do jeito como você é. Lembra de quando seus pais diziam que você era uma garoto malvado só porque você os desobedecia para fazer as coisas que você gosta (se você não passou por isso eu sinto muito por você)? Bad Kids é isso, você não é "malvado", as pessoas podem dizer o que quiserem, seus pais podem dizer o que quiserem, mas essa revolta é uma coisa boa. Não se deixe levar pela opinião dos outros, desobedeça seus pais, enquanto você for um "bad kid" significa que você está no caminho certo.


  Fashion of His Love e Black Jesus poderiam ser a mesma música, mas versos diferentes? Sim, poderiam. É mais uma música deliciosa, extremamente "abominável", em Fashion of His love Gaga vulgariza o amor de deus e nós aprendemos quem é o Black Jesus dela, nesse caso é a fama. Não se enganem, é sobre esse amor que ela canta, misturar religião no meio é só pra provocar e polemizar.


  Mais uma musiquinha auto-ajuda, mas mesmo assim tão gostosa. Sem dúvida é a inspiração para a capa do CD, para quem não conseguiu perceber a capa do CD com a Gaga se transformando em uma motocicleta é uma metáfora para liberdade, o tema central do CD não é sobre ter a liberdade para ser aquilo que você quiser? Ser aceito como você é no fundo do seu coração? Vocês conhecem algum símbolo maior de liberdade do que motocicletas? Tem sensação de liberdade maior do que dirigir uma motocicleta em uma estrada? Em Highway Unicorn (Road to love) todos somos livres para amarmos quem quisermos do jeito que quisermos. É uma musiquinha bem gostosa e bem Rock'n Roll, mas ainda assim bem gay e de quebra de valores, mas afinal de contas: romper com os velhos valores não era a ideia do Rock'n Roll?


  É uma música bem vulgar e gostosa, muito sexy e provocante apesar de ser em um estilo Rock'n Roll sujo. Essa música passa uma sensação de S&M e amor livre. É bem "Born this Way" e ao mesmo tempo a música mais superficial do CD, pé sobre fazer amor e é isso. Parece muito com Highway Unicorn.


  Mais uma música profana, o destaque aqui não vai para a letra e sim para a música, é sobre ir para a igreja (discoteca) adorar a liberdade que é o equivalente a deus na religião criada pela Gaga. Não concordam comigo que seria um mundo perfeito aquele em que tivéssemos discotecas no lugar de igrejas? Simbora pra igreja dançar!!


  O começo da música é um saco, mas ela fica ótima do meio pro final, mas isso não me faz gostar dela, a letra é bonita, mas não tenho paciência com essa música, é a que eu menos gosto do CD todo. Pena que tem cara de faixa de trabalho.

16 - Yoü & I

Já escrevi tudo que havia para ser escrito no post sobre o vídeo.


  É uma música muito boa, que teve um péssimo videoclipe. É sobre provocar os valores antigos, se arriscar a passar situações difíceis por isso, é estar na corda bamba, mas com pessoas que a gente ama de verdade não é um problema. É sobre amor acima de tudo, não é amor carnal, é amor de qualquer tipo, com amor de verdade qualquer adversidade é superada. É uma ótima forma de fechar um CD com uma mensagem tão bonita direcionada a todos os seres humanos, vamos nos arriscar e contar com o apoio um dos outros para mudar o mundo, enfrentar os riscos e fazer a diferença nessa sociedade hipócrita.
  Uma pena que ela estragou uma música tão linda com um videoclipe tão mal-feito, o vídeo promocional do Google era muito melhor e passava muito mais a mensagem de amor fraternal do que ela se esfregando e se contorcendo no vídeo oficial que ela fez, a Gaga como diretora de videoclipes continua sendo uma ótima cantora.

Capa do CD standard, como já expliquei antes a transformação em motocicleta representa a liberdade

Sabem o que ela está vestindo na capa do CD de remixes? Se você disse uma placenta acertou. S2