domingo, 29 de janeiro de 2012

BORN THIS WAY - Resenha crítica

Capa do CD Deluxe, cabelos revoltos livres, maquiagem pesada, sinônimo de liberdade


    Não vou falar sobre música nessa resenha, não tenho capacidade pra isso, mas vou falar sobre a mensagem, a simbologia presente na obra. Born this Way não é sobre um nascimento físico, é um (re)nascimento espiritual. Quem acompanha a carreira da Lady Gaga já deve ter percebido a tendência messiânica que ela vem mostrando, ela pretende salvar o mundo com a sua música, como ela disse em alguma entrevista ela não pretende ser parte da máquina, ela quer que a máquina seja parte dela.  O Born this Way é e deve ser interpretado como um chamado divino (real ou puramente fictício), é Gaga pondo em prática a missão que recebeu de deus, salvar essa nova geração dos principais problemas que a aflige: Falta de iniciativa, baixa auto-estima e bullying.

  1 - O CD começa com a faixa "Marry the Night" http://www.vagalume.com.br/lady-gaga/marry-the-night.html

  O que significa Marry the Night? É simplesmente se aceitar como você é, com todas as suas falhas, é sobre aceitar o seu "lado negro", aquele lado que é temido por algumas pessoas. O lado que Natalie Portman precisou liberar em Cisne Negro, a força primal que Heath Ledger abraçou em Batman.
  No videoclipe ela basicamente se aceita como é, deixando de lado os padrões rígidos (balé) e liberando toda a sua criatividade e energia (dança de rua, explosões de carros), ela se liberta da loucura da vida regrada e resolve simplesmente viver e é isso que a letra da música nos diz, viver a vida como alguns julgam errado, mas como o coração dela manda.

 2 - Born this Way:


Como já foi dito não é sobre um nascimento físico, é sobre um nascimento espiritual, uma nova dimensão da consciência humana de respeito mútuo apesar das diferenças. O renascimento acontece quando você deixa sua velha vida de não aceitação pra trás e passa a se amar como você é, como você se sente bem. A mensagem de Born this Way é sobre não deixar ninguém mudar você, você é que tem que mudar a sociedade para ela te aceitar do jeito que você gosta de ser.


  É uma das minhas faixas favoritas, dançante, com mensagem, tem tudo para ser o novo "Bad Romance" se for bem trabalhado. Em Government Hooker Gaga assume o que ela é: Uma pessoa que  cumpre ordens e dança conforme a música. Ou vocês acham que essas mensagens de auto-afirmação realmente vêm totalmente do fundo do coração? É óbvio que aqueles que controlam o poder (e não é de Governo político que fala a música) passam tudinho que deve ser dito a ela. O que eu mais gosto na Gaga é essa atitude Ombudsman, ela gosta de ser famosa, quer se manter famosa e não tem vergonha de admitir isso, ela vai fazer tudo o que for mandada se pagarem o preço (fama).
  Pode parecer assustador a princípio, e esse é um álbum muito dark, mais do que pode ser percebido superficialmente. Eu diria que o próprio nome da Lady Gaga diz isso, é como se ela fosse a versão feminina do bobo da corte, ela é o bobo da corte do mundo do entretenimento, ela diz todas as verdades que quer e que precisam ser ditas e quase ninguém percebe, afinal ela é a louca do pop. Ela tem muita liberdade, ninguém se choca quando ela aparece vestida de cabelos de criancinhas afegãs pois isso é o que se espera dela.


  Outra faixa que é muito mal interpretada, ela não fala do Judas que traiu Jesus nas histórias da bíblia ou de um namorado traidor. Ela fala daquele lado de nós mesmos que nos trai o tempo inteiro. Judas somos nós que optamos pelas coisas que sabemos serem erradas e que só vão nos trazer problemas no futuro. Quem não faz alguma coisa errada todos os dias, deixa coisas importantes pra depois e se preocupa com futilidades ao invés de se preocupar com as coisas que realmente importam? Judas é sobre escolher a opção errada sabendo que ela é errada, e isso é algo que nós fazemos todos os dias. Poderia dizer até que Judas é uma música em 3 camadas, na primeira você pensa que é sobre o Judas, depois você pensa que é sobre um namorado traidor e só depois você percebe que é sobre nós mesmos.


  Essa é uma faixa que eu acho que não tem nada a ver com o resto do CD, ou se tem algo a ver eu não consegui entender. Pensando o CD como uma coletânea de músicas sobre o mesmo tema "Americano" que em tese fala sobre a imigração ilegal etc. etc. não tem nada a ver com o resto das músicas. Mas mesmo assim é uma música que eu amo. Pelo que entendi até agora a música realmente é sobre imigrantes, então prefiro não comentar nada e deixar que vocês leiam e façam a crítica por conta própria.


  Talvez seja minha faixa favorita do CD, simples e genial, eu fiquei muito aborrecido por ter sido apenas um single promocional, só com a apresentação no Good Morning America a faixa conseguiu ficar em 12º lugar no Hot100 da Billboard e em 5º lugar entre as músicas mais vendidas digitalmente.
  Hair fala sobre não se encaixar nos padrões e não querer se enquadrar, é sobre ter a liberdade pra viver do seu jeito (assim como Born this Way), é uma música simples cativante e que fica ainda mais bonita quando é interpretada só com voz e piano, e de preferência ao vivo (que é onde a Gaga mais brilha e se diferencia das outras cantoras pop que precisam usar playback em todas as suas apresentações). A mensagem é a mesma de Born this Way, mas é feita de uma forma mais suave e doce, é bem infantil, eu vejo como o lamento de uma criança cujos pais não a aceitam como é. A metáfora aqui é o cabelo, mas serve para o corpo todo e a mente também.


  Essa música poderia se chamar Paparazzi ou Bad Romance parte II. Nela Lady Gaga fala sobre a Scheisse (merda), que no caso é o vício dela, a coisa sem a qual ela não pode viver e o que consome a sua vida: a FAMA. Essa música estaria melhor situada no álbum anterior e deveria ter sido a primeira a ser trabalhado como uma forma de transição para a sonoridade desse novo trabalho. Scheisse é dançante, energia pura, contagiante e decadente, assim como os viciados. Nessa música Gaga nos conta que gostaria de ser forte sem a sua droga, mas o vício (pela fama) é mais forte do que ela e que ela fará qualquer coisa por mais 5 minutos de fama.


  Mais uma música messiânica, e pelo menos eu amo isso. Eu considero uma música bem mediana, mas tem cara de música de trabalho que faria sucesso. A Bloody Mary da canção não é o drink, não é a rainha inglesa, Maria I que matou um monte de "hereges", nem totalmente Maria Madalena.
  Blood Mary é mais uma música feita pra chocar, as referências às teorias de que Maria Madalena foi amante de Jesus são bem explícitas na letra da música. Bloody Mary é uma provocação à igreja. Nela a Gaga diz que mesmo quando a igreja se for ela vai continuar amando Jesus Cristo como a amante dele, renegada por todos. O que mais uma vez prova a loucura messiânica da Lady Gaga que nós (eu pelo menos) tanto amamos.

9 - Black Jesus - Amen Fashion

  Sonoramente uma das minhas favoritas do CD, o significado não fica muito atrás. Gaga está mais provocativa do que nunca e essa música realmente é genial (diferentemente da genérica Bloody Mary). É lindo escutar a Lady Gaga cantando Jesus is the new black, o que eu traduziria como "Jesus é o novo pretinho básico/tendência". Lamento demais terem tirado o verso I wear black da versão final da música (que daria uma visão de Eu visto/sou Jesus/Messias/Salvadora).
  Nessa música espetacular em todos os sentidos Gaga vulgariza a religião, a transforma em consumismo e se afirma como um novo messias da moda fashion-religiosa, é o surgimento da religião descartável. Eu a acho simplesmente genial!!


  Bad Kids é uma delícia, a faixa mais Rock n' Roll do CD, é pura revolta, é novamente sobre o tema central do CD: Se aceitar do jeito como você é. Lembra de quando seus pais diziam que você era uma garoto malvado só porque você os desobedecia para fazer as coisas que você gosta (se você não passou por isso eu sinto muito por você)? Bad Kids é isso, você não é "malvado", as pessoas podem dizer o que quiserem, seus pais podem dizer o que quiserem, mas essa revolta é uma coisa boa. Não se deixe levar pela opinião dos outros, desobedeça seus pais, enquanto você for um "bad kid" significa que você está no caminho certo.


  Fashion of His Love e Black Jesus poderiam ser a mesma música, mas versos diferentes? Sim, poderiam. É mais uma música deliciosa, extremamente "abominável", em Fashion of His love Gaga vulgariza o amor de deus e nós aprendemos quem é o Black Jesus dela, nesse caso é a fama. Não se enganem, é sobre esse amor que ela canta, misturar religião no meio é só pra provocar e polemizar.


  Mais uma musiquinha auto-ajuda, mas mesmo assim tão gostosa. Sem dúvida é a inspiração para a capa do CD, para quem não conseguiu perceber a capa do CD com a Gaga se transformando em uma motocicleta é uma metáfora para liberdade, o tema central do CD não é sobre ter a liberdade para ser aquilo que você quiser? Ser aceito como você é no fundo do seu coração? Vocês conhecem algum símbolo maior de liberdade do que motocicletas? Tem sensação de liberdade maior do que dirigir uma motocicleta em uma estrada? Em Highway Unicorn (Road to love) todos somos livres para amarmos quem quisermos do jeito que quisermos. É uma musiquinha bem gostosa e bem Rock'n Roll, mas ainda assim bem gay e de quebra de valores, mas afinal de contas: romper com os velhos valores não era a ideia do Rock'n Roll?


  É uma música bem vulgar e gostosa, muito sexy e provocante apesar de ser em um estilo Rock'n Roll sujo. Essa música passa uma sensação de S&M e amor livre. É bem "Born this Way" e ao mesmo tempo a música mais superficial do CD, pé sobre fazer amor e é isso. Parece muito com Highway Unicorn.


  Mais uma música profana, o destaque aqui não vai para a letra e sim para a música, é sobre ir para a igreja (discoteca) adorar a liberdade que é o equivalente a deus na religião criada pela Gaga. Não concordam comigo que seria um mundo perfeito aquele em que tivéssemos discotecas no lugar de igrejas? Simbora pra igreja dançar!!


  O começo da música é um saco, mas ela fica ótima do meio pro final, mas isso não me faz gostar dela, a letra é bonita, mas não tenho paciência com essa música, é a que eu menos gosto do CD todo. Pena que tem cara de faixa de trabalho.

16 - Yoü & I

Já escrevi tudo que havia para ser escrito no post sobre o vídeo.


  É uma música muito boa, que teve um péssimo videoclipe. É sobre provocar os valores antigos, se arriscar a passar situações difíceis por isso, é estar na corda bamba, mas com pessoas que a gente ama de verdade não é um problema. É sobre amor acima de tudo, não é amor carnal, é amor de qualquer tipo, com amor de verdade qualquer adversidade é superada. É uma ótima forma de fechar um CD com uma mensagem tão bonita direcionada a todos os seres humanos, vamos nos arriscar e contar com o apoio um dos outros para mudar o mundo, enfrentar os riscos e fazer a diferença nessa sociedade hipócrita.
  Uma pena que ela estragou uma música tão linda com um videoclipe tão mal-feito, o vídeo promocional do Google era muito melhor e passava muito mais a mensagem de amor fraternal do que ela se esfregando e se contorcendo no vídeo oficial que ela fez, a Gaga como diretora de videoclipes continua sendo uma ótima cantora.

Capa do CD standard, como já expliquei antes a transformação em motocicleta representa a liberdade

Sabem o que ela está vestindo na capa do CD de remixes? Se você disse uma placenta acertou. S2


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